quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Escuridão

Consigo sentir a escuridão se aproximando, me consumindo, me enterrando em minha própria cova moral. Aqui encolhida, sinto o cheiro da dor, que vem rasgando o que sobrava do meu juízo.

Não, não estou louca. Estou apenas afundada numa consciencia exacerbada sobre mim mesma - quem disse que se olhar nua e crua é fácil? São tantas marcas, tantos nós, tantos buracos remendados e vazios, tantas lágrimas secas... que a visão assombra.

Queria não lembrar, queria não sentir. Quanto mais mergulho nesses sentimentos, mais me machuco, mais percebo que me falta fé. Me falta acreditar.

sábado, 13 de setembro de 2014

Porto

Sonhos confusos, mar, vestido, luz rosa do fim do dia, balões, escadas, perseguições, telefonemas, detalhes.

Desperto, bem antes do que queria. Permaneço ali, deitada, fitando o quarto a meia luz e é seu cheiro em minha cama que me acorda. Me aninho entre os travesseiros e abraço um urso que poderia ser você, lembrando do seu olhar sob mim e nossos risos. Te amar e te querer são fatos agora tão ardentes, que me tiram a esperança de dormir um pouco mais.

No misto de lembranças de você e dos sonhos, tentando me entender, decido ir ver o mar pela janela. Esse mar que me trouxe até você, quando eu achei que ele só poderia levar esperanças e trazer frustrações. Esse que em ritmo faz meu coração bater mais leve. Pego a sua camera e decido captar algo que traduza o meu olhar, as vezes poeticamente desmedido.

Desisto, respiro fundo e me delicio com o momento. No fundo, todas essas imagens, gravadas e mentais, só me aproximam da minha própria confusão - aguardando a sua calma pousar em mim, deixando tudo mais claro, mais fácil de ser vivido e admirado.

sábado, 6 de setembro de 2014

Resquícios, não relíquias.

Alguém um dia me ensinou que tudo é apenas um jogo, assolando minha inocência e prazer com as pequenas coisas. Indo para o macro, onde se tornou apenas um peão fingindo indiferença, sem saber que a pior derrota é quando você mente para si mesmo dizendo que ganhou mais uma vez. Esse alguém perdeu, perdeu feio, mas no fim das contas... quem perdeu fui eu, a fé na bondade, a fé na verdade, a fé nos outros. E em mim?

Mas você, que um dia me ensinou a brincar com as pessoas, com a vida e a morte, continua aí e bem longe - onde deveria estar faz tempo. encenando as próprias ilusões. Ironicamente, esse continuar não é avançar e de algum modo eu sinto daqui a sua estagnação, as suas dúvidas tão escondidas, coisas que eu preferia nem saber, porque no fundo eu desejei o melhor para você (mesmo não tendo nenhum motivo para isso).

Hoje parece um século depois de seu grande ato sem aplausos, porque eu segui, camaleônica e verdadeira como sempre fui e tentaram podar. Mesmo não tendo raízes visíveis, as minhas crescem absurdamente, se enroscam, se enrolam em mim mesma, se alimentam de tudo o que a vida me oferece e me tornam forte como nunca fui. O sol volta a brilhar bebê, aceite.

De todas as coisas que eu deixei para trás, não são apenas livros e arquivos, velas derretidas e memórias desconstruídas - não sinto a menor falta de nenhuma delas, para não dizer que cada vez mais elas escurecem e somem. Incrivelmente algo ficou, um universo novo e aprendizados vindos de tudo o que quase me matou, porque a morte existe em tantos sentidos que ninguém poderia saber até vivenciar. De verdade, há algo que permaneceu em mim e desejava ardentemente que tivesse ficado para trás, naquele pacote escondido no seu armário: essa falta de confiança, esnobe, rude, asquerosa.

Eu quero mesmo um dia me livrar disso, dessa defesa, dessa fuga, dessa falta de suavidade que faz com que tudo seja assim, um grande jogo, tudo pareça ter um porquê maligno e pronto para me puxar o tapete e deixar ali, naquele buraco de novo. Sabe aquele meu amor incondicional por todas as coisas? É o que me salvou e o que me salva todos os dias, mas, quando tudo se silencia... esse resquício volta e assombra todas as minhas certezas. Nem os Deuses sabem como foi difícil chegar até a superfície novamente, então, de tanto que morri, sou capaz de matar todas as faces que restaram desse caos para nunca mais voltar a parecer você.

Então não volte, não me procure, não finja que ficou tudo bem e existem relíquias a serem preservadas. Não me peça um sentimentalismo barato, nenhum saudosismo, me contando o quanto te dói me ver feliz e alguma paranoia. Não, simplesmente não, nada disso existe, você morreu aqui muito antes de minhas malas estarem feitas, e caramba, como isso é bom! Com o tempo, até a poeira que agora assentou, vai sumir.

Enquanto isso, meu sol brilha, danço com meus allstars sujos e não penso mais nisso - acordei assombrada, mas já soprei para longe essa lembrança e me permito, daqui pra frente, a ser ainda melhor e maior do que meus medos.