terça-feira, 28 de outubro de 2014

Aceitar para ser.

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante.

Me cansei, como constantemente me canso, não só dos preconceitos... mas do pré-conceitos formados sobre mim. Ainda mais de pessoas que me conhecem bem o suficiente ou então estão tão próximas, tornando possível enxergar uma vida "caleidoscópicamente" bonita. Por vezes dolorida, doída e doida, mas essencialmente bonita, pura.

Sim, sou ariana ferrenha, daquelas que dá cabeçadas quando nem parede tem, com um ascendente em peixes pra lá de emotivo... sou desembestada, meto a cara e mergulho de cabeça no que eu bem quiser, pago pra ver, dou a outra face, odeio perder tempo, adoro inventar novidades e coisas a se fazer "pela primeira vez". Sou eu, totalmente, sem amarras, sem pauta, sem prisões.

Por isso mesmo, ou talvez seja a causa disso tudo, sou extremista. Como disse Bukowski, "eu quero o mundo todo, ou nada". Amor e ódio, vontade ou indiferença, presença ou ausência, fervendo ou gelado, e por ai vai. Motivo que me faz pular fora de situações, de pessoas, de ideias, na mesma intensidade com que me atiro nas mesmas. As vezes até eu me incomodo, mas confesso que com o tempo estou aprendendo a lidar comigo mesma.

Diante de tudo... algo que absolutamente eu não sou, é mente fechada. Até aberta demais. Pseudo-cult fanfarrona. O que me possibilita ser assim, caleidoscópica, criativa, mutante. E mudar não é necessariamente começar algo do novo, transformar totalmente, pode ser crescer, dar novos sentidos, somar.

E mesmo desvairada, aparentemente desvirtuada, intensa, eu também tenho um coração. Oh se tenho, até demais as vezes. Por isso, eu também seu perdoar, também sei pedir perdão, me redimir, olhar de novo pra algo que não foi certo da minha parte ou de outros... engolir meu orgulho? Sim, por que não? Até mesmo dar valor para conceitos que pareciam perdidos, passar por cima de desentendidos, mudar de ideia.

O que me dói é ver que tem gente que não consegue apenas respeitar tudo isso. Apenas peço que respeitem, não precisa entender para aceitar.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Descrença

Só queria fingir que ainda consigo, ou melhor, acreditar fielmente nisso. Ainda mais quando o silêncio chega e o frio me consome cada partícula de esperança.

As vezes parece uma neurose que bate como a brisa e vai embora, quando não estremece minha alma inteira. De vez em quando, acho que é puro medo ou falta de prática, para depois me convencer de que já não tenho mais a menor paciência ou que literalmente perdi a fé.

Passou tanto tempo assim? Ou sou apenas eu que imaginei ter ido embora e permaneço ali, naquela descrença? Doi. Doi muito ver que o nada pode, na verdade, ser aquele pingo que vai transbordar tudo.

E se essa incapacidade de acreditar novamente... me fizer perder o que é real? Se me fizer me perder de mim mesma? E se permanecer assim, sendo apenas uma duvida?

Entendo agora que o silêncio também é choro. Talvez o mais doloroso e dono das lágrimas mais ácidas que já experimentei, corroendo o que acho que não existe nesse universo particular.

Eu queria era voltar. A acreditar, a me permitir, a me entregar.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Escuridão

Consigo sentir a escuridão se aproximando, me consumindo, me enterrando em minha própria cova moral. Aqui encolhida, sinto o cheiro da dor, que vem rasgando o que sobrava do meu juízo.

Não, não estou louca. Estou apenas afundada numa consciencia exacerbada sobre mim mesma - quem disse que se olhar nua e crua é fácil? São tantas marcas, tantos nós, tantos buracos remendados e vazios, tantas lágrimas secas... que a visão assombra.

Queria não lembrar, queria não sentir. Quanto mais mergulho nesses sentimentos, mais me machuco, mais percebo que me falta fé. Me falta acreditar.

sábado, 13 de setembro de 2014

Porto

Sonhos confusos, mar, vestido, luz rosa do fim do dia, balões, escadas, perseguições, telefonemas, detalhes.

Desperto, bem antes do que queria. Permaneço ali, deitada, fitando o quarto a meia luz e é seu cheiro em minha cama que me acorda. Me aninho entre os travesseiros e abraço um urso que poderia ser você, lembrando do seu olhar sob mim e nossos risos. Te amar e te querer são fatos agora tão ardentes, que me tiram a esperança de dormir um pouco mais.

No misto de lembranças de você e dos sonhos, tentando me entender, decido ir ver o mar pela janela. Esse mar que me trouxe até você, quando eu achei que ele só poderia levar esperanças e trazer frustrações. Esse que em ritmo faz meu coração bater mais leve. Pego a sua camera e decido captar algo que traduza o meu olhar, as vezes poeticamente desmedido.

Desisto, respiro fundo e me delicio com o momento. No fundo, todas essas imagens, gravadas e mentais, só me aproximam da minha própria confusão - aguardando a sua calma pousar em mim, deixando tudo mais claro, mais fácil de ser vivido e admirado.

sábado, 6 de setembro de 2014

Resquícios, não relíquias.

Alguém um dia me ensinou que tudo é apenas um jogo, assolando minha inocência e prazer com as pequenas coisas. Indo para o macro, onde se tornou apenas um peão fingindo indiferença, sem saber que a pior derrota é quando você mente para si mesmo dizendo que ganhou mais uma vez. Esse alguém perdeu, perdeu feio, mas no fim das contas... quem perdeu fui eu, a fé na bondade, a fé na verdade, a fé nos outros. E em mim?

Mas você, que um dia me ensinou a brincar com as pessoas, com a vida e a morte, continua aí e bem longe - onde deveria estar faz tempo. encenando as próprias ilusões. Ironicamente, esse continuar não é avançar e de algum modo eu sinto daqui a sua estagnação, as suas dúvidas tão escondidas, coisas que eu preferia nem saber, porque no fundo eu desejei o melhor para você (mesmo não tendo nenhum motivo para isso).

Hoje parece um século depois de seu grande ato sem aplausos, porque eu segui, camaleônica e verdadeira como sempre fui e tentaram podar. Mesmo não tendo raízes visíveis, as minhas crescem absurdamente, se enroscam, se enrolam em mim mesma, se alimentam de tudo o que a vida me oferece e me tornam forte como nunca fui. O sol volta a brilhar bebê, aceite.

De todas as coisas que eu deixei para trás, não são apenas livros e arquivos, velas derretidas e memórias desconstruídas - não sinto a menor falta de nenhuma delas, para não dizer que cada vez mais elas escurecem e somem. Incrivelmente algo ficou, um universo novo e aprendizados vindos de tudo o que quase me matou, porque a morte existe em tantos sentidos que ninguém poderia saber até vivenciar. De verdade, há algo que permaneceu em mim e desejava ardentemente que tivesse ficado para trás, naquele pacote escondido no seu armário: essa falta de confiança, esnobe, rude, asquerosa.

Eu quero mesmo um dia me livrar disso, dessa defesa, dessa fuga, dessa falta de suavidade que faz com que tudo seja assim, um grande jogo, tudo pareça ter um porquê maligno e pronto para me puxar o tapete e deixar ali, naquele buraco de novo. Sabe aquele meu amor incondicional por todas as coisas? É o que me salvou e o que me salva todos os dias, mas, quando tudo se silencia... esse resquício volta e assombra todas as minhas certezas. Nem os Deuses sabem como foi difícil chegar até a superfície novamente, então, de tanto que morri, sou capaz de matar todas as faces que restaram desse caos para nunca mais voltar a parecer você.

Então não volte, não me procure, não finja que ficou tudo bem e existem relíquias a serem preservadas. Não me peça um sentimentalismo barato, nenhum saudosismo, me contando o quanto te dói me ver feliz e alguma paranoia. Não, simplesmente não, nada disso existe, você morreu aqui muito antes de minhas malas estarem feitas, e caramba, como isso é bom! Com o tempo, até a poeira que agora assentou, vai sumir.

Enquanto isso, meu sol brilha, danço com meus allstars sujos e não penso mais nisso - acordei assombrada, mas já soprei para longe essa lembrança e me permito, daqui pra frente, a ser ainda melhor e maior do que meus medos.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

"Separô toda minha correria"

Que coisa louca, estou reaprendendo tanta coisa. Eu aqui, nesse meu jeito afobado de ser, de queimar a língua com café e tropeçar pra chegar mais rápido, me pego esperando. Não uma espera tediosa, fria, não, agora é uma espera paciente, divertida, quente, que observa e que vive um "novo" intensamente - aquele que é tão completo que precisa de mais tempo para ser aproveitado. Me pego fazendo coisas que nunca me imaginei fazendo, e melhor, vejo o quanto me fazem bem.

Percebo que nem tudo precisa ser um furacão, que a brisa leve batendo no rosto e trazendo um sorriso já vale o dia inteiro. Que o copo se enche e se esvazia em seu próprio tempo, no ritmo da conversa, que flui doce. A correria já não é tão caótica e cheia de caminhos, atalhos, desvios, tudo ao mesmo tempo, passo a saber meu destino e vou bem acompanhada. As coisas mudam, mas não como se toda aquela minha fúria não tivesse sido necessária para chegar até aqui - e foi, oh se foi.

Conheço agora a sensação de viver com a cabeça nas nuvens e os pés no chão, algum equilíbrio que tem me feito tão bem quanto uma boa noite de sono, aquelas que já não tinha mais e voltaram a reinar lindamente. Mas sim, é engraçado, o frio na barriga de não saber se é o correto e, ainda assim, saber que é ainda mais correto e bonito do que julgava ser. Aquela dúvida de que caminho tudo vai tomar, enquanto sei que tem sido o mais florido por que já passei e certezas disparam na minha porta. Aprendi que o convencional e o "certinho" em alguns casos é bonito, satisfaz, faz sentido, me surpreende... e eu literalmente não conhecia.

De repente me sinto tão menina quanto nunca fui, não deixando de ser a mulher que me tornei - que passou por tanta coisa que chega a ser impossível contar. Tudo ganha mais graça e eu aprendo, dia após dia, que planejar, plantar, regar, ver crescer, admirar as pequenas evoluções, administrar o mau tempo, me surpreender com uma nova flor... é bem melhor do que simplesmente comprar um vaso pronto e colocar na minha janela.

terça-feira, 22 de julho de 2014

But it was not your fault



Tem coisa que nos mata um bocado por dentro. Que aperta o peito e nos afunda em nosso próprio poço, sem ao menos dar tempo para tomar um fôlego ou tampar o nariz. Vem como uma bomba, te acertando a arremessando contra você mesmo, todo o seu dia despedaçando de uma só vez. As mãos procuram onde se agarrar, mas a queda é inevitável - não há como se forte quando o problema é com quem você ama e não importa quanto esforço você faça, não depende de você.

"Chore por si mesmo, meu amigo
Você nunca será o que está em seu coração
Chore, pequeno homem leão
Você não é tão corajoso quanto era inicialmente
Avalie-se e recomponha-se
Pegue toda a coragem que te sobrou
Desperdiçada em consertar todos os problemas
Que você criou em sua própria cabeça"


terça-feira, 8 de julho de 2014

Do peito ao lixo

Dou o último suspiro, fundo, com aquela cara de quem desistiu. Não é um suspiro de tristeza, nem de alívio, nem de uma raiva contida. Muito menos sinônimo de peito repleto. É um suspiro de indiferença, de vazio, de quem arranca um sentimento do peito de atira ao lixo. Como se fosse nada, como se tivesse tido a chance de ser tudo, e escolheu só estar ali, ocupando espaço.

O fato é que eu canso. Jardins sem flores me entediam. Meu forte nunca foi a monotonia, o comodismo, a tranquilidade mais caracterizada pela inação do que pela leveza da palavra, a falta de paixão pela vida em sí, o sorriso sem sentimento, conversas mal conversadas, esperas indefinidas. Sempre odiei essa falta de sentido, essa falta de ter pelo que viver e morrer, essa falta de fazer valer a pena.

Será que você sabe como é se sentir inteiramente vivo em cada coisa que faz? Como se seu ser explodisse e brilhasse tanto quanto sua própria estrela? Desejar cada coisa com todo o seu desejo e se entregar? Não consigo não ser assim, eu tenho que sentir, fazer, agir, ser. Viver é tão maior e tão urgente, não suportaria ver todo esse poder escorrendo pelo ralo.

Lágrimas seguem esse suspiro. Frustração? Perda de tempo, como tudo tem sido. Questionamentos sobre como fui me meter nessa história, de mentiras tão caladas.

Confronto



Abro os olhos a contragosto, piscando forte para ter certeza de que estou realmente aqui. Me descubro naquele patético momento onde a mente, de tão barulhenta, silencia. Cala. Acalma, como se estivesse aguardando outra explosão.

Saber, ousar e calar. Há outra alternativa? Voltas e voltas e tudo se resume a essa trindade maldita - onde já não calo consciente, sim por não haver meios de expor verdade alguma. Se é que são verdades ou apenas tormentos de quem se descobre uma tábula rasa, mais rasa do que já imaginado, ainda procurando alguma fórmula para levantar seu castelo de areia numa noite de tempestade.

Me sinto sendo testada e marcada, a ferro e fogo, sem pausas para tomar ar, apreciar a brisa e contemplar o céu. O segredo já não é recuperar as forças, mas descobrir que uma mente despedaçada pode voar e contemplar o voo, seja pela ignorância, pelo conhecimento, pelos prazeres, pelos sentimentos... Até mesmo pela dor de se olhar diante do espelho, nua e crua.

Algo me leva longe, me demora, e então me puxa de volta, com toda a força e brutalidade da colisão com a realidade. Os olhos brilham, a mente borbulha, tambores tocam fundo no peito, há um quê doce em toda essa força, funda em mim.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Despacho


Desencontros,
desapegos desmedidos,
desesperos despercebidos,
desinteresses ou desleixos,
destemperos guiando desrespeitos,
desentimentos motivados por desemelhanças,
desventuras em desamores,
desvios de deslumbramento...

Desiludem.
Desolam o amor que nem chegou a ser,
despacham o sentimento.
Desperdício.
E fim.

domingo, 6 de julho de 2014

Indefinida

Eu já não quero uma certeza, já não quero pensar tanto no amanhã, ignoro as previsões meteorológicas, o horóscopo, o tarot, todo o planejamento e crendices, teorias, razões e impulsos. Já não quero o depois, eu quero o agora, eu quero ser antes de permanecer - por quê é tão difícil? 

Basta sentir tudo aquilo que se guarda no peito, olhar de verdade, acreditar e dar uma chance para que o agora se torne aquele eterno de um único instante... ou o eterno enquanto durar. E que dure, não sei, que dure o tempo necessário para florir sorrisos e abrir as janelas do coração, da mente, da carne e do desejo. Desejar além da cama, da companhia, desejar um algo novo que te tire dessa confusão ao mesmo tempo tão monótona. Que seja, mas, efetivamente, seja. 

Mas quero, dá pra entender? Quero com toda essa euforia e conforto que dá, quero com a suavidade do toque e a intensidade do olhar. Quero, assim, inteiro, ou não. Tudo ou nada, porque o que eu sinto não cabe mais em meio termo, ou bate ou não bate. 

Enquanto isso eu sigo, acreditando, esperando, estendendo a mão. 

Buraco noturno

Entre ruas perdidas, no sereno gelado, entre goles e mesas, meia luz, meio fio, meias verdades... quem é você agora? A realidade nua, suada, intensa ou fruto da imaginação? Quais os disfarces e alardes, qual o seu número de telefone, o timbre da sua voz, quem é você ou eu que nem me lembro mais.

A noite cai bêbada em algum colo, brindando estes sorrisos tão frios e distantes quanto a mente entorpecida que os observa. São tantas guerras particulares, pequenas batalhas internas, que descansam banhadas pelo brilho da lua num quarto que não é o seu. E é vazio, frio, como o buraco que descubro no meu peito.

Fica.

Talvez você não veja
mas parece apenas mais uma dança solitária
uma canção que não pode ser ouvida
um suspiro doce perdido no meio da multidão
É tudo aquilo que eu queria mudar com você

Um jogo que pode ser vencido
e eu me vejo jogando sozinha,
em rua nebulosas que me levam até você,
quando ainda estou tentando pegar
o atalho contrário

E se eu nunca puder te contar a verdade?
E se eu nunca pudesse te contar
que tenho pouco tempo para amar você?
E, céus, isso é o que mais quero fazer

Se eu deixasse a razão contar
O tempo escorreria pelas minhas mãos frias,
tentando encontrar um jeito de ter você
e um pingo de esperança

Olho você e percebo
que nunca tive tanto medo da estrada
nem tanta vontade de ficar
Quando seus olhos dizem que sim,
por quê meu coração entende que não?

Agora eu só te peço para ficar
Não, não me deixe ir embora
porque tudo que eu quero
é demorar nesse seu olhar
e ter algo bom para lembrar

Apenas segure minha mão
e não me deixe sumir na névoa
do meu próprio coração
Porque o que eu sinto com você
dá ao meu coração uma trégua

Talvez você também sinta,
desde o primeiro dia,
que tudo isso poderia ser verdade
Então não demore
não quero mais me perder
nessa sua cidade

De todos os sorrisos,
eu escolhi deixar você ser o meu
Então, ou vem, me deixa saber
que não estou brilhando
sozinha na escuridão,
ou vai, porque a solidão também é presente

sábado, 5 de julho de 2014

As Riots estão vivas



Não, o movimento Riot Grrrl não acabou. Não foi enterrado pela mídia ou pela falsa ideia de que hoje as mulheres que comandam as nações, o mercado de trabalho, os produtos e bens de consumo. Ainda vivemos num mundo cheio de estereótipos, de preconceitos, de injustiças e falsas moralidades...Que muitas vezes são impostos por muitas de nós, mulheres, aquelas que se deixam encarar apenas como um buraco cor-de-rosa fútil.

Se nosso movimento começou nos anos 90 falando de música, mas já em resposta ao machismo, foi apenas o começo da nossa reivindicação, que se estende muito além dos dogmas do mundo do rock. Falamos da força feminina, do nosso poder de ação, da nossa presença como ser humano pensante e lutamos contra os dogmas desse velho mundo sexista, machista e preconceituoso...Não apenas como musicistas, mas como mulheres, como profissionais, como peças essenciais de um grupo, como filhas, irmãs, mães, como sua vizinha, colega de sala, como a garota que você vê passando na rua e chama de gostosa. Somos mais do que você pode julgar, por isso não fazemos a mínima questão de parecer comportadas e esteticamente aceitáveis para podemos ser aceitas por robôs de mente pequena, que seguem fielmente uma sociedade que nem ao menos os reconhece como ser humano e destrói sua honra todos os dias.

Somos aquelas que desde pequenas lutam para sobressair em ambientes onde a mulher é criada com contos de fadas, vestidos rosas, sonhos delicados e a ideia de um príncipe encantado. Somos aquelas que conseguem provar que dependem apenas de si mesmas para agir, que surpreendem com pontos de vista e ações, que se destacam no nível estudantil, no mercado de trabalho, na rua, no bar que você não frequenta. Provamos que podemos tanto quanto qualquer homem, fazendo por nós mesmas, pisando em estigmas e em preconceitos sem olhar para trás. Geralmente somos as ovelhas negras, as que batem de frente, que contestam, que não aceitam e lutam contra qualquer injustiça encontrada no meio do caminho, que lideram grupos e movimentos...Mas que vencem, que chegam lá, pelo próprio suor, por capacidade, não por meiguice, beleza, boas roupas e status social.

Falar de feminismo é muito mais do que falar de direitos das mulheres, é falar do direito de cada ser vivo, de saber o valor de cada um e olhar de frente, sem amarras, para o mundo que se impõe. Não cabe como regra sermos homossexuais e rasparmos o cabelo, porque para ser uma de nós é preciso é aceitar o que existe dentro de você, seja lá qual for sua escolha em qualquer aspecto. O que existe dentro de você, não o que colocaram lá sem pedir sua permissão. Para ser uma Riot Grrrl é preciso se respeitar, ou seja, acima de tudo, respeitar suas idéias, seus sentimentos, seu corpo, suas ideologias. É lutar por um mundo mais justo, mais igualitário, onde todos tenham vez. É não compactuar com sistemas que nos imponham padrões, que nos tornem objetos e símbolos sexuais, que só vejam nossa bunda e o cabelo arrumadinho. É fazer acontecer, não se omitir - não apenas vestir roupas descoladas, pintar os olhos de preto, beber cerveja, chegar tarde em casa e falar palavrão. Não somos uma imagem.

Riot Grrrl é aquela mulher que se arruma pra agradar a si mesma, que acorda super cedo e vai pro trabalho, que tem que se superar todos os dias e mostrar sua garra, que mesmo cansada não deixa a vida parar. Que engole sapo só pra provar o contrário. Que sabe onde gastar seu dinheiro e não é guiada pela mídia ou pelo que os outros esperam que ela seja, que não perde tempo com o que não vai a fortalecer ou acrescentar nada em sua vida, que não aceita que tentem mudá-la ou falem que ela não é capaz. Que tenta mostrar para outras mulheres que elas também podem comandar a própria vida. Riot Grrrl é ter fibra moral, é ser mulher e estar conectada com o poder de nossa essência, é ser consciente, é fazer e ser o melhor de nós mesmas. É tantas outras coisas que não precisam ser ditas, porque somos.


E estamos aqui, todos os dias, em todos os lugares, lutando por nós mesmas - seja com música, com textos, com atitudes, com nosso modo de ser e ver o mundo. Ainda lutamos, porque somente nós sabemos o quanto ainda é preciso vencer, o quanto é preciso mudar, o quanto a sociedade já tentou nos ferir e levantamos, mas fortes e decididas.

Camaleônica e transbordante



Sem dúvidas eu não sou a mesma.

Passei dias enfiada em memórias e tentando me reconectar com uma face perdida minha, como se ela pudesse retornar das brumas e voltar a ser aquela menina que ainda acreditava em todos os sorrisos... Aquela menina leve de cabelo comprido, cacheado e vermelho fogo, vestidão hippie azul, allstar preto sujo de areia, bolsão de lado cheio de tinta, sorriso sincero, brisa batendo, numa rua de pé de moleque e casarios que formavam meu paraiso infernal. Inspirações desordenadas e transbordantes, dúvidas e certezas coloridas, sem medo, sem amarras.

Essa é minha essência, no momento mais liberto e livre da minha vida, um EU tão vivo e refletido no meu rosto de neve, nem menina nem mulher, acreditando que a qualquer momento seria possível pegar um taxi para a estação lunar. Mas, agora, onde está?

Anos se passaram e eu também passei, por mim mesma e por coisas que eu jamais imaginaria, nem mesmo suportar. Mas também passei por sorrisos tão bonitos e experiências tão grandes, que me fazem acreditar que não sou apenas o que está aqui, há uma imensidão de gente, lugares, bagagens e tudo o mais que se possa imaginar dentro de mim.

Percebo então, que além dessa confusão interna e uma suposta maturidade, surge uma força que desconhecia. Algo grita, agora, um grito de liberdade, e vou amplificá-lo até que os olhos mudem de cor e eu consiga organizar essa bagunça, botar para funcionar o misto do que eu sinto agora em comunhão com aquela que tinha me esquecido, mas jamais deixei de ser. Não quero mais voltar, quero somar e transbordar novas cores, voltando a ter fé, na vida, em mim, no ser humano, no amor, na taba e pé na estrada... todas as estradas dentro e fora de mim.

sábado, 28 de junho de 2014

Coração vagabundo



Era para ser bom, mas agora sinto o misto de dor, agonia e esperança, resultados do que eu já não me permitia sentir, e me entorpeço. Entorpeço minha mente e minha voz pra já não mais dar importância aos dramas desse coração - que não somente se recusa a ser entorpecido, quanto tem a mania de sentir demais, ou de menos. Dessa vez, foi o demais que me nocauteou.

Me entorpeço porque já não sei se ê fruto da minha imaginação, pressentimento ou a realidade ali na porta. Ainda tento levantar, cambaleando, sentido o peso das emoçoes contra o peito. Falta o ar. Olho para cima, céus, como pude me deixar cair nessa novamente. 

sábado, 21 de junho de 2014

Yule



Depois de uma longa e pesada Roda Escura, que ainda não acabou, o Sol começa a renascer.

Abro meus olhos e as janelas, emocionada, fitando o céu, agradecendo até mesmo pelas dores e por tudo que conquistei mesmo assim. Agradecendo por essa nova etapa. Está nublado, mas eu sei que você está lá Sol. Respiro fundo e o a luz invade minha alma, meu coração, meus pensamentos... minha vida. Vejo que a Criança da Promessa, o Deus renascido, também renasce em mim, renovando minhas esperanças, me dando aquele fôlego que tanto esperei e a certeza de dias melhores.

Lágrimas começam a cair. Já não de dor, como aquela que achei que ia me devorar, mas de emoção por tudo que passei e pela força que descobri em mim mesma, aquela que eu achava que jamais teria. Vejo que sou maior, que posso brilhar através da escuridão e que Eles jamais me abandonaram, me ensinando mesmo pelos caminhos mais tortos e aparentemente sem sentido.

Olho para dentro, relembrando cada momento dessa Noite Escura que dominou minha vida, parecendo nunca ter fim, parecendo me acorrentar em mim mesma e ir quebrando meus ossos, meus sonhos, meus sorrisos. Eu os via despedaçados pelo chão a minha volta e nem sequer tinha força para recolhe-los, para tentar fazer alguma coisa com tudo aquilo que ia escorrendo pelas minhas mãos vazias. Pensei que aquilo fosse me destruir, que não iria suportar, vendo tudo se fechar ao meu redor e esquecendo do brilho e do amor que sempre tive.

E então, aquela mesma escuridão me deu as ferramentas e a sabedoria, não só para supera-la mas também para usá-la a meu favor. E eu dancei sobre os corpos caídos, já não uma dança de ira, e sim uma dança de amor por mim mesma! Triunfante, bela, serena, determinada. A Mãe me apresentou faces que até então eu era incapaz de encarar e de viver tão intensamente, e eu as usei, e eu as vivi, deixei que essa força e sabedoria me dominassem para abrir caminho para mim mesma e para que Ele retornasse, trazendo toda sua beleza, toda sua luz, sua esperança e o amor crescente, puro, inocente, poderoso, abençoando esse meu novo mundo.

Com o Seu retorno, inconscientemente fui deixando para trás tudo o que já não servia mais, me livrando de amarras, abandonando tudo aquilo que ainda pesava em meu coração... e dessa vez, sem sofrimento. Abro espaço para o novo, abro espaço para que o amor e a luz voltem a reinar docemente, me trazendo toda aquela energia e poder do novo, olhos brilhantes e sorriso sincero. Seja bem vindo de volta Sol.

Ao mesmo tempo que não sou mais a mesma, tendo passado por mais do que posso acreditar, volto a ser aquela de quem tanto senti falta. Minha essência acorda, meu Eu grita de alegria e minha criança interior comemora, me recebendo de volta, me trazendo aquele amor incondicional, aqueles sorrisos, aquela leveza, ternura e sensibilidade que eu conhecia tão bem. Essa sou eu, acreditando que o amor é sempre o caminho.

Então hoje eu celebro, a Roda gira, agradeço. Agradeço pelas sombras que se foram, por ter conseguido encarar minha face negra, por todo aprendizado e sabedoria, por todo o amor que sobressaiu mesmo em tempos difíceis. Agradeço a Ela, Suas asas me curando, Sua força me resgatando, Sua independência me acordando e fazendo agir. A Ele, que mesmo imerso em escuridão, me ensinou a ter paciência e esperança. Agradeço a todos que estão comigo, em todos os planos, e por ter não só retornado ao seio da minha própria família, mas ter encontrado (ou reencontrado) uma família que escolhi chamar de minha. Vocês foram essenciais nesse despertar.

Fica aqui o meu desejo de que essa Roda Escura esteja sendo profunda para todos aqueles que necessitam, de que o Sol preencha suas vidas e nos traga um Yule maravilhoso. Que o Sol volte a reinar e possamos renovar nossas esperanças, renascer junto com ele, deixando tudo o que for necessário para trás. Que independente da crença, essas bençãos se estendam a todos. Fica meu amor para vocês, sempre incondicional, sempre acreditando, sempre brilhando.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Crônica de um amor ilusório



A noite será clara. A lua, cheia. Ele e ela passearão descalços pela praia. Ele terá em suas mãos duas rosas brancas. Olhará para o mar - este estará belo. Olhará para ela - esta, estará muda. Para o mar, não oferecerá rosas, oferendas a Iemanjá, com um pedido: Oh, rainha do mar, olhar por mim e por ela. Para ela, oferecerá ilusão, atenção e carinho.

Ela, fantasiada de uma personagem louca, estará a sonhar que ele pode ser seu Bukowski. Ele, apaixonado pela paixão e mais nada, sonhará que ela poderá vir a ser sua Isolda. E esquecendo-se das diabruras cometidas pela amargura e do peso que por vezes pode sentir ao carregar tantos sonhos e tantas esperanças, eles falarão de coisas que estar-se-ão dispostos a acreditarem reais e profundamente sentidas.

Conversando, deixarão para trás o mar murmurento e caminharão até um bar - o qual poder-se-ia acreditar saído das páginas do "Crônicas de um amor Louco" - que estará repleto de boêmios, artistas, miches, prostitutas, enfim, apinhado de personagens bossa Anjos da Noite.

A única mesa ainda solitária será encontrada lá, bem no fundo do bar. Eles sentarão, pedirão um whisky, enquanto ao lado, nas mesas ao redor, personagens boêmios e embebedados estarão trocando beijos, risos e abraços escandalosos.

Ela girando com a mão esquerda o copo de whisky, lhe dirá, sorrindo: - Gosto de ti, baby. Gosto porque sei que dentro dessa sua imensa solidão interior - somente amenizada pela sua paixão pela paixão - você consegue arrastar-se daqui; ferir-se dali; roçar a felicidade num extremo; mergulhar no outro; mas, teimosamente, manter acesa dentro do mais recôndito de ti, a chama da paixão pela sua própria paixão.

Ele ouvira. O que tem a dizer? Nada, somente ouvira. E então, lembrará de alguma coisa linda, lida, que dizia mais ou menos assim: "Palavras, palavras. Não será tudo palavras? Palavras que a paixão destila, essa paixão fingida e falsa que nada revela, nada sente, apenas expressa, dá-se gratuitamente e espera um exercício, para chegar a algum lugar."

E - verdadeiramente - ele dirá: - Ela, a paixão, não será assim mesmo? Uma dissimulação? Uma expressão? Um mero jogo de embustes? E os apaixonados, não serão vendedores de ilusão?

Ela passará delicadamente a mão no rosto dele, e sussurrará repetidas vezes: - Bobo, ah seu bobo! Ai complementará, maliciosamente - ainda iludidamente louca, que encontros bukowskianos jamais podem terminar numa mesa de bar. Então muita coisa estará por acontecer dentro dessa invertida trilogia.

Mas o dia raiará. E, em o dia amanhecendo, com certeza cada um irá para o seu canto. Ela, ainda sonhando em encontrar o seu Bukowski - encontrara, encontrará? Ele também ainda a sonhar com a vinda de sua Isolda - virá? Não sei baby.

Ela talvez venha a dizer: - A gente volta a se encontrar. Certamente - ele responderá monossilábico antes de se despedirem com um leve beijo na boca.

Eles, iludidos ou não, terão sido felizes, Momentaneamente? Inutilmente? Não importa, desde que se repita. Afinal de contar, o raiar de um novo dia sempre foi, continua sendo e será um novo dia, não é baby?

(Crônica escrita em 2009 para alguém que nunca foi um amor)

O amigo e a sede



Mais ou menos, generalizando, há três tipos de amigos quando você está feliz.

O que vai falar "nossa! o que aconteceu? conta conta!", um segundo que vai falar "ah é? eu também, lembra daquele cara que te falei?, e o último, "ahm... passa a água?".

Com o primeiro, você pode se decepcionar porque ele nunca diz nada, quem fala é você. Com o segundo, você pode se decepcionar porque ele fala o tempo todo. Quem fala não é você. E com o terceiro você pode se decepcionar, mas só até perceber que você é fundamental na vida dele.

Com o tempo, você vê que a sede é só para te fazer sentir útil na vida dele, e que é o mesmo jeito tímido dele demonstrar o quanto gosta e precisa de você. Ele sempre vai ouvir, mesmo que tenha só comentários sobre a água estar muito gelada. E sempre vai falar, mesmo que seja para pedir mais. E quando você achar que está tudo acabado porque cortaram a água, ele vai chegar com uma coca-cola. Vai ver que essa é a tal da amizade verdadeira, a que fala e escuta, que que independente do que acontecer sempre existirá, e quando você menos esperar, vai te acrescentar algo.

Por falar nisso... Tô com sede, tem água?

(Texto escrito há alguns anos para meu eterno amigo Bruno Rosas, entre trancos e barrancos mas o amor mais amigo que eu poderia ter ao lado, sempre)

Quero

Alguém me disse que para cada certeza existem mil "porquês", que quando questionados podem gerar ainda mais dúvidas, que levarão a somente mais uma certeza - a qual ainda pode ser questionada - muito provavelmente oposta à primeira.

Como autodefesa, nos privamos de lembranças, de situações, de pessoas, de pessoas, do que for. Privamos-nos, para não sofrer. Trancafiamos-nos em nossas próprias ilusões, mentimos para nós mesmos - e não que isso seja consciente e proposital.

Pode ser que um único "por quê" revolucione um mundo em apenas um segundo, como é bem possível que uma única certeza revolucione uma vida. Assim como uma simples pergunta pode gerar as maiores surpresas: o que você espera da sua vida?

Cada um com seus objetivos, cada um com suas certezas tão certas ou incertas quanto sua própria razão, com seus projetos... Mas creio que tudo gera em torno de um mesmo fator, a realização, seja como for, em diversos âmbitos, mas que seja plena.

Eu, por exemplo, quero continuar estudando, trabalhando, mas não somente trabalhar para mim mesma e para ter dinheiro para a cervejinha no final da semana. Eu quero ser reconhecida, quero colaborar com o mundo, construir algo, nem que seja uma ideia, um conceito, para muitos, ou para quem merece. Quero fazer o que gosto. Quero sentar com bons amigos e levar a fio discussões saudáveis e intermináveis, quero apoiar e admirar, quero apoio e admiração. Quero sorrisos sinceros, quero incentivo às minhas ideias, quero ajudar a realizar sonhos.

Quero também um grande amor, pra vida toda, talvez. Quem não quer? Não pela aparência e não pela admiração, porque um dia tudo acaba ou decepciona. Mas um amor que vá além disso e me renda momentos de felicidade intensa, sorrisos sem igual, um companheiro de verdade, que me olhe como sou e além de completar, acrescente, cresça.

Quero não plantar uma árvore, mas um jardim, uma horta, quem dera um roseiral inteiro. Plantar uma semente agora, como uma atitude, pensamento ou projeto, e lutar por ela, regar, proteger, ver crescer, firme, forte, saudável e muito, muito bonita.

Isso são certezas - sim, são. Mas provindas de questionamentos, e sujeitas a revisões, e principalmente, aprimoramentos.

Sobre a vergonha tão bonita



Sinto minhas bochechas queimarem com o sorriso que insisto em esconder, imaginando você me olhando um pouco de cima, profundamente, como se me entendesse, com os olhos semiabertos e sério, naquele silêncio que já me encanta mais do que deixa sem graça.

Corro para me esconder dentro de mim mesma, encontrando ali aquela menininha que nunca fui e verdades acorrentadas, deixadas apenas para mim mesma e povoando meu infinito particular com brilhos de diversas intensidades.

O fato é que você realmente me olha, e eu volto, deixando escapar o quanto gosto de estar ao seu lado, mas acho que você não sabe, ou que é cedo para eu dizer. E é naquele beijo combinado com apertões que me tiram o ar, que aquela menina cresce, voltando a ser apenas uma mulher, e sinto seu coração acelerar, seu cheiro, sua pele tocando a minha. E ao mesmo tempo que sinto tudo, me inebriando pro detalhes, viajo para tão longe e tão ali, em você. Apenas.

Mas a realidade bate a porta e volto a colocar os pés no chão. Me flagro escrevendo, pensando, sentindo, rindo das nossas coincidências e do quanto não sou assim, admirando cada detalhe seu. Pera, não, nada disso faz sentido e a alma pede um pouco mais de calma.

Respiro, fundo. Espantando a névoa apaixonante. Mas ai vem você, de novo, também com as bochechas vermelhas e tudo aquilo que tem me feito sorrir, me puxando pela mão e trazendo tudo novamente.

Paro de pensar, e sorrio de verdade.

Esqueci das palavras

Santo Merlin! O que devo escrever?

Tanto e muitos pensamentos tagarelando na minha cabeça, e eu não tenho o que escrever. Até mesmo o barulho das teclas duras se torna suave e a playlist repete milhões de vezes, sendo que eu nem reparo mais em que música está tocando. Roda, roda e roda.

A palavra não é só meu meio de comunicação, são os dedos uma ponte entre a mente e um novo mundo onde a palavra é minha ideia materializada num jogo de acaso e fatalidade, como em qualquer um em que se lançam dados. Ela pode percorrer todo universo e não ir a lugar algum, de nenhum a qualquer um ou sair balbuciando meu be-a-bá pelo mundo a fora ou no ouvido de alguém.

Esta atual incapacidade de atingir, de entender, é que faz com que eu, por instinto (de quê?) procure um modo de falar que me leve mais depressa ao entendimento. Até mesmo de mim mesma. E acabam por ficar meias-palavras, meias-calças e meio-fios.

Assim descubro que o que eu não sei dizer tem mais importância até mesmo do que digo. Parece que as palavras me impedem de dizer a verdade, nua e crua, como navalha na carne.

Por fim, não há palavras.

Como também não há explicação abrangente e justa sobre cada momento-comum tão meu e tão pouco compreensível, que acontece da tela pra cá.

Continuo sem ter o que escrever, ou sem saber separar uma coisa da outra.

E insisto que todo homem tem uma sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma linda aurora.

Máscara

Ser transparente não serve de nada, não tem necessidade alguma e as vezes também não ajuda em absolutamente nada, só atrapalha. E assim vestimos nossas máscaras, escondemos nossas verdades por trás de um pano púrpura e contribuímos para o exército da solidão, da hipocrisia, de tudo aquilo contrário ao real mas que acontece, involuntariamente o tempo todo.

As vezes eu queria ser menos humana.

Queria ser menos coração.

Queria estar menos sujeita.

Queria ser mais.

Dar razão a quê? Aos sentimentos ou á lógica? Razões e caminhos tão diferentes que sempre levam ao mesmo lugar. E por que pensar na razão? E por quê pensar? Sigo andando sem pensar no porquê disso e daquilo, apenas que o que tem que ser é... Se não, nme passa por mim. Novamente a entrona da lógica, sempre sem ser convidada.

Não consigo



Eu queria escrever sobre isso.

Eu queria escrever sobre o que eu não sei, sobre algum momento que não passa, sobre uma música bonita que não para de tocar, sobre o barulho do mar invadindo minha janela a noite.

Queria poder explicar alguma coisa, entender o motivo de tanta cosia que gira em minha mente... E não tem como sair, não tem portas, janelas, brechas. Queria mandar tudo para o espaço, que se percam na luz, no tempo, em si mesmos, mas não em mim.

Me persegue na rua vazia a noite, como uma brisa trazendo um perfume que poderia ser desconhecido, não é almíscar nem vinho, mas me incendeia. Chove fino e o horizonte parece tão longe quanto o meu pensamento, que não volta, não tem controle, não me abandona. Um riso doce perdido, sem motivos.

O silêncio se torna música para meus ouvidos, a música que não acaba mais... Eu não consigo chegar em casa. Quero apenas deitar a cabeça no travesseiro, tentar dormir, e com você brilhando no escuro... apagar.

E acordar ainda sem saber.

Eu?

Eu não sou tão madura nem tão alternativa, não defino meu estilo nem copio penteados, não durmo de barriga pra cima e uso All Star até debaixo de chuva ou na praia. Separo meus CDs metodicamente e tomo comprimidos de manhã, sou uma boa garota tanto quanto meio perdida, ao mesmo tempo que sou uma mulher decidida e confesso não gostar de relógios e da hipocrisia tão dissimulada que ele pode ocasionar.

Tá bem, não quero ser tão normal quanto os outros pensam. Como se isso fizesse sentido, estivesse estampado na minha testa e não fosse tão irônico (imagina, irônica? eu?). Ouço música no chuveiro, não perco o fôlego lendo alguma tradução dos livros de Saramago, misturo tintas e esqueço os pincéis, não faço as coisas numa ordem muito lógica, esqueço do que não me interessa, não tenho medo de barata nem de avião e nem de elevador, não suporto o sol mas acho bonito, sigo meus sonhos e não a moda, não tenho raízes e estou perdendo as papas da língua.

De repente tudo isso se defronta com a prerrogativa de dizer "não". E "não" pode ser dito de tantas e diversas maneiras que confundem todas as gotas do meu ser, aquela coisinha pensante que não aceita as coisas mastigadas como a TV e oa buracos da rua que já virou patrimônio histórico.

De tão decidida, mudei o percurso e tropecei na dúvida de dançar a música ou mudar o disco. Quais e tantas felicidades qualquer uma das decisões poderia trazer ao meu superego e seus tabus tão quebrados? Tenho em mente, mais do que as desvantagens. Então, ligo o som e a vitrola ao mesmo tempo, num confronto interno de qualidade e praticidades.

Encarando as irresponsabilidades e síndromes alheias, e assumindo as minhas também, eu sigo em frente e já finjo não ser apenas mais uma "alegre deprê", como na música dos Móveis. Finjo porque rebelar já não cabe masi no sentido da palavra, não tem tempo nem espaço e muito menos liberdade. Ser livre e não poder sonhar, sonhar e ter que viver meus sonhos minunciosamente, escondendo o real sentido dos sorrisos e ao mesmo tempo não os negando a ninguém - a verdade é só minha e minha hipocrisia começa onde a sua ultrapassa o limite. Sinceridade ñao custa nada, mas se acumula nas prateleiras das grandes magazines. Pra mim, artigo de luxo é dividido com quem merece. E ponto.

Mas não estou na moda nem quero levar uma vida comum, não sou nem muito alternativa nem excêntrica. Muito menos irônica, imagina.

domingo, 18 de maio de 2014

Revirando - parte 2




A luz se acende.

Eu estou ali, longe de absolutamente todos os meus pilares, tentando fazer parte de algo que não é meu, abandonando partes importantes e expressivas de mim pelo que parece ser certo ou parece preservar um sentimento ou um desejo.

No momento, em prol de um objetivo, que parece muito maior do que tudo e que me fez mudar minha vida, e até minha cabeça, tudo faz sentido. Todos os sacrifícios.

Mas, ninguém me perguntou ou sequer se importou com o quanto tudo aquilo era importante e difícil para mim. Nem sequer imaginaram que, aos poucos, isso iria me matando, porque fazia parte de mim numa vida inteira. Nem sequer reconheceu o tamanho da dor e da vitoria, e vice versa, que eu estava tendo ao lidar com tudo isso.

Muitas vezes, inúmeras, isso me trouxe alegrias, prazeres, oportunidades. Mas, verdade seja dita, eu pouco tinha onde me agarrar e não via que a queda podia ser tão dolorosa.

E então, eu nessa fragilidade toda, desapercebida, sou exposta. Não há para onde, quem ou o quê correr, e na ânsia de preservar aquele sentido todo... eu passo por cima dos meus sentimentos, da minha moral, dos meus valores, de mim mesma. Mas estou ali, nua por dentro, acuada como um animal. O unico lugar que eu tinha para me ancourar, é justamente o que, naquele momento, estava me expondo e devastando.

O pesadelo passa, mas eu continuo ali, sozinha, exposta, sem refúgios, portos seguros, tendo que escolher entre passar por cima de mim mesma ou por cima de um amor e de um sonho. Dolorida, extremamente dolorida, desrespeitada, humilhada, invadida em aspectos e pontos fracos, sofrendo o que ninguém tem o direito de fazer com o outro.

E então passo por cima, de mim.

Revirando - parte 1

Depois de muito fugir, resolvi revirar minha própria mente em busca de alguma situação ou alguma soma de fatores que tenha dado o "start" a toda essa minha confusão. Sentimental, psicológica, social, familiar, de trabalho, de saúde, espiritual... generalizada!

Que eu sinto tudo mais do que o normal, sim, eu sei, mas isso também me faz amar e acreditar mais do que o normal também. Por vezes até mais do que o aceitável. Que eu sou meio alternativa e exêntrica, demais para alguns, também sei. Mas... de fato tem algo de errado, que anda fazendo tudo transbordar.

Me sinto como um animal acuado, num misto de raiva, de medo, de tristeza, de ansiedade, de auto proteção... de esperança? Um pingo, por quê não? Sozinha, ameaçada, assustada, eletrizada, humilhada, carente. É como se eu estivesse em perigo e pronta ou para atacar alguém (até a mim mesma), ou para morrer.

Da expectativa ao sentimento



Você não escolhe como vai se sentir frente a tudo o que acontece na vida - acredito que isto esteja muito mais ligado a uma enorme complexidade de fatores externos e internos naquela determinada situação, e que às vezes não tem nada a ver com a mesma. Tem a ver também com expectativa, outra coisa nada controlável e que por vezes passa despercebida.

Você espera ou não algo, acontece, você reage, você sente, e, dependendo da intensidade disso tudo junto... esse sentimento pode ser simplesmente esquecido e encarado como algo normal, e até passageiro, ou não. Pode marcar e perdurar, de uma forma positiva ou... machucando.

O fato é que, como disse a Fernanda Young, "o problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente". E esse "querer" também é espectativa. 

Certas coisas doem mais do que golpes físicos, e às vezes ficam como feridas, ali, escondidas, corroendo, mascaradas. Porque, até certo ponto, há o que encubra, supra outras necessidades que pareçam mais urgenres, que distraia. Tem dores que simplesmente se esquecem, somem, e pronto, mas tem outras... que se sente, e não se escolhe.

E sabe quando doi mais? Quando você descobre que a ferida está maior do que você se acha capaz de curar.

Noite escura



Na minha vida, já passei por diversas das chamadas "Noites Escuras da Alma".

Depois de muito apanhar de mim mesma e do Universo, hoje sem dúvida consigo reconhecer quando estou em uma.E eu estou. Minha noite escura começou, no momento em que aquela vela azul terminou de queimar e endurecer sua própria cera, de um modo que eu nunca tinha visto antes. Eu não me engano, essa escuridão também não tem nada parecido com as outras - a não ser o fato de que chegou para me acordar e me preparar. Sim, para renascer.

Apesar de ter consciência... não é nem um pouco fácil. Um redemoinho de pensamentos e acontecimentos parece esgotar todo o oxigênio a minha volta, e aos poucos vou sufocando. Meu peito doi, uma dor aguda, chorada, sentida, demorada. Queria ao menos ter ar suficiente para um último suspiro.
Dormir acabaria com todas dores, ou não? O tempo passaria e eu seria pega de surpesa com uma tempestade?

domingo, 4 de maio de 2014

Do buraco - parte 1

Me sinto despertar aos poucos, ainda meio atordoada, como se tivesse sido atropelada por mim mesma ou caído do alto dos meus sonhos. Ainda de olhos fechados, sinto dificuldade em respirar, como se o ar entrasse rasgando ainda mais meu peito dolorido. Algum cheiro pesado invade minha mente. Onde estou? Busco em mim mesma aquele cheiro, enquanto tento me livrar da sensação de estar coberta por alguma coisa, como se estivesse suja, no desespero de sentir minha própria pele. Que cheiro é esse? Minha mente vaga para alguma estrada perdida e uma névoa vermelha. Sim, terra vermelha. Que diabos.

Abro os olhos. A névoa permanece num entardecer, não há sol nem escuridão, mas meus olhos se forçam a enxergar, não se acostumando fácil com a realidade. Olho para minhas próprias mãos, sujas, de... terra! Meus braços, meu corpo inteiro, que vou tentando tirar de montes e montes de terra. Quanto mais eu me esfrego, em desespero, para tentar me limpar, percebo que meu corpo vai desaparecendo com a terra. Mas eu sinto que estou aqui! Mais terra vem surgindo, lá do alto, caindo e pesando sobre mim, me deixando confusa e cada vez mais desesperada. Como se já não bastasse ter tão pouco espaço para tentar me livrar, parece que quanto mais eu me movimento, mais ele se fecha a minha volta, me sufocando.

Canso. Deixo a terra cair enquanto minhas lágrimas rolam, num choro sentido, soluçado, gritado. Desespero, mágoa, dor, raiva, confusão, revolta. Como vim parar aqui? O que está acontecendo? Meus pais devem estar me procurando. Será que ninguém mais deu falta de mim até agora? Pouco importa. Só quero sair daqui.

O tempo passa até que eu resolva olhar para cima, e, por entre a névoa, consiga ver alguns vultos e suas pás, que não hesitam em jogar mais e mais terra. Ouço vozes, conversas, risadas. Custo a acreditar que tem alguém lá em cima fazendo isso. Será que não perceberam que estou aqui? Será que eu caí nesse buraco? Grito, a todos pulmões, mas não ouço minha voz. Minha voz parece apertar minha própria garganta, me estrangulando aos poucos, e consumindo o pouco ar que consigo puxar. Agito minhas mãos, ainda tentando gritar, tentando tirar meu corpo cada vez mais soterrado da terra, para poder saltar e chamar atenção. Minha voz não sai ou ninguém me ouve, nem eu mesma? Sei que tento, tento, até cansar novamente.

De repente a dúvida maior vem na minha mente. Será que eles sabem o que estão fazendo? Será que estão mesmo me enterrando viva? Não. Me recuso a acreditar, enquanto, ao mesmo tempo, sei que mu maior defeito é acreditar demais na bondade das pessoas, caindo em diversas armadilhas. Não acredito, mas não duvido. Finjo novamente para mim mesma que não importa. Quero é sair daqui.

Vai anoitecendo e os vultos começam a tomar forma, começo a distinguir rostos e sons. Eles me conhecem! Grito mais, em vão. Tenho a impressão de estarem olhando na minha direção, mas não sei se estão olhando somente para a terra que jogam, jogam ,e jogam. Pás e mais pás. Olho para cada um, com dor, pensando em tudo o que já passamos, em tudo o que já sentimos, no quanto me abandonaram... no que estão fazendo agora. Ei, eu estou aqui! Parece que nunca existi. Me dou conta de que não existo ali, estou invisível, visível só para mim mesma. Filmes, cenas, palavras, se desenrolaram e desfilam na minha mente, na frente dos meus olhos. Eu sinto toda a dor, por ter amado tanto cada um deles, por ter acreditado e me doado tanto... a ponto de não sobrar mais nada para mostrar e nem que os faça parar e me enxergar, ver o que estão fazendo, e parar com esse pesadelo.

O tempo passa e a terra cai, já quase cobrindo meus braços que não existem. Sinto cada pedaço do meu corpo dolorido, mas ele não está lá. Não posso ser vista, não posso explicar, mas eu me sinto viva! Já não faço mais nada, nem mesmo choro, nem mesmo grito, como se todas as minhas forças tivessem esgotado. Resolvo olhar um pouco mais pra dentro, e percebo que eu não mereço ficar ali. Se vão me ajudar ou não, eu preciso antes voltar a existir, ao menos para mim, para depois tentar fazer com que parem ou conseguir escalar esse buraco. Mas como?

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Samhain em mim


Hoje o suspiro se torna mais longo e leve. 

Hoje mais um Ano termina para uma bruxa, mais um Giro da Roda se completa, mais um ciclo sem fim, onde a morte abre espaço para o renascimento, a escuridão para a luz, a dor para o amor. É ele, o amor, que impera, por trás de toda dor e todo medo. O mundo ainda mergulha na noite com a morte do Deus, a Deusa em sua face Anciã chora sua morte, aguardando o inverno e nos preparando para a parte sombria e fria da Roda, mas temos sua alma na criança não-nascida, o que me lembra que o Sol ainda nascerá. A espera torna-se necessária. 

Hoje o véu entre os mundos se torna mais fino e me permite dançar ainda mais, junto aos meus antepassados e a minha história, junto aos Deuses antigos! Honrar, prantear, relembrar, aprender, reviver e viver, porque todo fim também é começo. Hora de celebrar quem sou e tudo o que me faz ser, nada é mais forte do que isso e do que minha alma livre! 

Mais uma Noite Escura da minha alma que parece não acabar, mas uma pequena Luz se acende, a chama da esperança me chama a trilhar o caminho e não temer mais. Que dança comigo, leve e violentamente. Eu sou Deusa, eu sou Deus, eu sou Senhora de mim mesma, eu sou a estrela pulsante que vai fazer a ordem vir de todo esse caos. 

Olho para trás, ainda com alguns pesares, mas também com gratidão, por tudo o que me trouxe até aqui e me fez não desistir, mesmo com toda mágoa, toda dor, toda raiva, todo preconceito, todo testemunho de desamor. Existem outras faces e preciso constantemente buscá-las dentro de mim e dentro do próximo, para só então poder plantar e colher. 

Peço, sem saber o que está a um palmo do meu nariz, que, com essa nova Roda, venham muitas boas colheitas, muita prosperidade em diversos sentidos e que eu continue aberta para esse recomeço, para todo aprendizado, toda troca, toda evolução. A todo sorriso, que ele não fuja do meu rosto. Peço força, para renascer das cinzas, triunfando sobre mim mesma. 

Faço desta noite um ato solitário, mas trazendo em meu peito e pensamento todos aqueles que já se foram e todos aqueles que eu desejo que estivessem dançando entre os mundos comigo. Que possa ser assim para cada irmão meu, pagão ou não, estendendo as bençãos a toda humanidade, todo Universo, sem deixar de lado ninguém que passa, passou ou permanece em nossos caminhos. 

Assim seja! 

A Different World - Cecile Corbel (tradução) 

Um Mundo Diferente

Olhe para o céu, se você se sentir solitário
Este é o mesmo céu que eu olho muito
Lembro-me do dia em que seus olhos caíram sobre mim
Olhos tão brilhantes? Agora eu estou querendo saber

Por que você está triste?
Você sabia que eu tinha que partir
Porque eu vivo em um mundo diferente

Eu ainda não estou tão longe de você

Eu me sinto tão pequena no jardim
Minha mente fica inquieta quando eu penso em você
Nós somos tão iguais e tão diferentes

Não apenas amigos, então me prometa

Por favor, não fique triste
Embora seja hora de partir
Se isso é amor verdadeiro
Por favor, salve um lugar em seu coração para mim

terça-feira, 29 de abril de 2014

Dia que não é dia

Depois de ser atropelada por diversas emoções, pensamentos e lembranças, uma noite de sono pesado foi pouco. Acordo como se ainda estivesse esgotada, com a cabeça pesada, me recusando a olhar para fora da janela e fazendo apenas o mínimo necessário. Um banho não suficientemente quente, no frio que começa, e nada de despertar - não meu organismo, mas sim minha vontade de fazer alguma coisa. Luto contra mim mesma para me arrumar e vestir aquele sorriso, mas o tempo vai passando e nada parece preencher esse vazio no peito.

Desisto. Choro. Arranco minha roupa e apanho aquele moletom, grande e confortável, me sentindo um pouco mais acolhida ao vesti-lo e pensar que preciso de paz. Deitar na cama, ligar a tv e não assistir nada além dos meus próprios pensamentos. Dormir com as gatas enroscadas nas minhas pernas e cobertas. Me sentir um pouco mais comigo mesma. Quem sabe, conseguir escrever, desenhar, criar, qualquer coisa que me faça sumir no meu próprio universo particular.

Penso que é besteira, que eu deveria sair de qualquer forma, que é drama demais. Mas não, algo me acorrenta em mim mesma e hoje tudo parece difícil demais, como um dia que é noite, como um dia que não é dia. Fecho as cortinas.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Solidão povoada

No meio da multidão, colorida, barulhenta, cheia de perfumes e cheiros, cheia de mensagens que meu corpo interpreta sem ao menos perceber. De repente tudo passa em câmera lenta, em preto e branco, e a sensação volta. Solidão? Quem sabe dizer a quanto se estende e a quanto se limita a solidão? Posso ter tudo e todos, ao mesmo tempo, em diversas situações, mas a solidão me pega pelo calcanhar, leve e sorrateiramente, quando menos espero. E se joga em cima de mim, esmagando o que já nem existe. Então todo o resto se torna cenário de uma peça da qual não participo e sou forçada a introduzir um monólogo sem platéia. Mesmo que todos continuem ali.

domingo, 20 de abril de 2014

Estupro criativo

E de repente paro de criar. Escrever, desenhar, procrastinar ao meu modo, para dar sentido a alguma ideia ou sentimento que é meu e não merece ser apenas uma mímese de mim mesma, perambulando por aí. Um assalto de mãos vazias, de cabeça vazia, um estupro da minha criatividade. Me recuso! Me recuso! Me recuso! Começo a pensar em alternativas, como espaços, métodos, horários, possibilidades para me render a tudo aquilo que se debate entre as paredes do meu crânio ou da minha ignorância. Só dependo de mim mesma, fato, admito, num mundo e uma realidade onde não há a aceitação ou respeito pela vida DA arte e PELA arte - que necessita e implora por tempo, espaço e estados de espírito para nascer. Criar é um ato solitário, so-li-tá-ri-o, e pequenas coisas já podem ser capazes de destruir completamente o processo quem nem teve chance de começar. E que ninguém se engane, não há nada que me deixe com mais raiva. Alucinada! Me matem por algo que vá me satisfazer, mas não tentem podar meus sonhos!

sábado, 19 de abril de 2014

Navy Taxi ou um recomeço




Recomeçar. Sabe, não é como se eu estivesse perdendo minha própria mente. Mais uma vez. Penso que a mente deveria ser parte de nossa essência, ou, para os momentos céticos de uma vida petulante, toda ela. Perder sua própria essência... isso mais me parece a uma garrafa vazia de um bom e velho whisky, que ao mesmo tempo que se esgota, te deixa atordoado - variando de um incontrolável êxtase ao mais profundo buraco. Dou voltas e voltas em torno de mim mesma, me olhando com estranheza: - Quem diabos é esta que se enfiou ai? Quem chamou? De onde nasceu essa porra?! Sei que continuo ali, aqui, em algum lugar, gritando por uma revolta, tão doce e fria quanto meu próprio sufocamento fora... Assim, sem ser notado, de mansinho, uma pá de terra por vez, com algumas sementes, que florescem, ou não, dão frutos, ou não, e atraem abelhas barulhentas, insignificantes, dolorosas... Venenosas.


Navy Taxi (Tradução)

A chuva chuviscou em meu rosto, muito obrigado, colega
E eu perdi dez libras no caminho
Pensando nisso, eu gastei ontem à noite?
Quando eu estava bêbada, eu queria ficar mais bêbada ainda

Perdi o trem, muito obrigado, colega
Eu não queria estar atrasada hoje, porque eu sempre estou atrasada
E eu realmente odeio estar atrasada

E agora o outro trem está atrasado... ótimo.

Carregando as malas e eu homem de táxi azul marinho disse:
Aproveite a chance, amor.
Porque você não precisa correr
Porque a vida é sua e de mais ninguém, coração.
Não deixe ninguém colocar-te em uma caixa.


Então eu peguei todas as outras coisas que eu disse antes
E vou fazer funcionar
Porque eu estou perdendo minha mente, e isso está me deixando louca

E então eu tentei te ajudar a carregar as compras
Mas eu não estava concentrada, eu estava conversando
E eu tinha pego no lado disso e rachou
E eu tentarei te ajudar a caminhar mas eu provavelmente vou acabar levando vantagem de você
Mas não se preocupe, eu nunca te deixarei cair

E eu sou teimosa, eu grito e vou te cortar fora
E eu vou fazer você se sentir como eu nunca quis que você se sentisse


E eu sou teimosa, eu grito e vou te cortar fora
E eu vou fazer você se sentir como eu nunca quis que você se sentisse

Carregando as malas e eu homem de táxi azul marinho disse:
Aproveite a chance, amor.
Porque você não precisa correr
Porque a vida é sua e de mais ninguém, coração.
Não deixe ninguém colocar-te em uma caixa.

Então eu peguei todas as outras coisas que eu disse antes
E vou fazer funcionar
Porque eu estou perdendo minha mente, e isso está me deixando louca
E dessa vez, vai ser diferente,Dessa vez, vai ser diferente 9X