quinta-feira, 19 de junho de 2014

Eu?

Eu não sou tão madura nem tão alternativa, não defino meu estilo nem copio penteados, não durmo de barriga pra cima e uso All Star até debaixo de chuva ou na praia. Separo meus CDs metodicamente e tomo comprimidos de manhã, sou uma boa garota tanto quanto meio perdida, ao mesmo tempo que sou uma mulher decidida e confesso não gostar de relógios e da hipocrisia tão dissimulada que ele pode ocasionar.

Tá bem, não quero ser tão normal quanto os outros pensam. Como se isso fizesse sentido, estivesse estampado na minha testa e não fosse tão irônico (imagina, irônica? eu?). Ouço música no chuveiro, não perco o fôlego lendo alguma tradução dos livros de Saramago, misturo tintas e esqueço os pincéis, não faço as coisas numa ordem muito lógica, esqueço do que não me interessa, não tenho medo de barata nem de avião e nem de elevador, não suporto o sol mas acho bonito, sigo meus sonhos e não a moda, não tenho raízes e estou perdendo as papas da língua.

De repente tudo isso se defronta com a prerrogativa de dizer "não". E "não" pode ser dito de tantas e diversas maneiras que confundem todas as gotas do meu ser, aquela coisinha pensante que não aceita as coisas mastigadas como a TV e oa buracos da rua que já virou patrimônio histórico.

De tão decidida, mudei o percurso e tropecei na dúvida de dançar a música ou mudar o disco. Quais e tantas felicidades qualquer uma das decisões poderia trazer ao meu superego e seus tabus tão quebrados? Tenho em mente, mais do que as desvantagens. Então, ligo o som e a vitrola ao mesmo tempo, num confronto interno de qualidade e praticidades.

Encarando as irresponsabilidades e síndromes alheias, e assumindo as minhas também, eu sigo em frente e já finjo não ser apenas mais uma "alegre deprê", como na música dos Móveis. Finjo porque rebelar já não cabe masi no sentido da palavra, não tem tempo nem espaço e muito menos liberdade. Ser livre e não poder sonhar, sonhar e ter que viver meus sonhos minunciosamente, escondendo o real sentido dos sorrisos e ao mesmo tempo não os negando a ninguém - a verdade é só minha e minha hipocrisia começa onde a sua ultrapassa o limite. Sinceridade ñao custa nada, mas se acumula nas prateleiras das grandes magazines. Pra mim, artigo de luxo é dividido com quem merece. E ponto.

Mas não estou na moda nem quero levar uma vida comum, não sou nem muito alternativa nem excêntrica. Muito menos irônica, imagina.

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