terça-feira, 22 de julho de 2014

But it was not your fault



Tem coisa que nos mata um bocado por dentro. Que aperta o peito e nos afunda em nosso próprio poço, sem ao menos dar tempo para tomar um fôlego ou tampar o nariz. Vem como uma bomba, te acertando a arremessando contra você mesmo, todo o seu dia despedaçando de uma só vez. As mãos procuram onde se agarrar, mas a queda é inevitável - não há como se forte quando o problema é com quem você ama e não importa quanto esforço você faça, não depende de você.

"Chore por si mesmo, meu amigo
Você nunca será o que está em seu coração
Chore, pequeno homem leão
Você não é tão corajoso quanto era inicialmente
Avalie-se e recomponha-se
Pegue toda a coragem que te sobrou
Desperdiçada em consertar todos os problemas
Que você criou em sua própria cabeça"


terça-feira, 8 de julho de 2014

Do peito ao lixo

Dou o último suspiro, fundo, com aquela cara de quem desistiu. Não é um suspiro de tristeza, nem de alívio, nem de uma raiva contida. Muito menos sinônimo de peito repleto. É um suspiro de indiferença, de vazio, de quem arranca um sentimento do peito de atira ao lixo. Como se fosse nada, como se tivesse tido a chance de ser tudo, e escolheu só estar ali, ocupando espaço.

O fato é que eu canso. Jardins sem flores me entediam. Meu forte nunca foi a monotonia, o comodismo, a tranquilidade mais caracterizada pela inação do que pela leveza da palavra, a falta de paixão pela vida em sí, o sorriso sem sentimento, conversas mal conversadas, esperas indefinidas. Sempre odiei essa falta de sentido, essa falta de ter pelo que viver e morrer, essa falta de fazer valer a pena.

Será que você sabe como é se sentir inteiramente vivo em cada coisa que faz? Como se seu ser explodisse e brilhasse tanto quanto sua própria estrela? Desejar cada coisa com todo o seu desejo e se entregar? Não consigo não ser assim, eu tenho que sentir, fazer, agir, ser. Viver é tão maior e tão urgente, não suportaria ver todo esse poder escorrendo pelo ralo.

Lágrimas seguem esse suspiro. Frustração? Perda de tempo, como tudo tem sido. Questionamentos sobre como fui me meter nessa história, de mentiras tão caladas.

Confronto



Abro os olhos a contragosto, piscando forte para ter certeza de que estou realmente aqui. Me descubro naquele patético momento onde a mente, de tão barulhenta, silencia. Cala. Acalma, como se estivesse aguardando outra explosão.

Saber, ousar e calar. Há outra alternativa? Voltas e voltas e tudo se resume a essa trindade maldita - onde já não calo consciente, sim por não haver meios de expor verdade alguma. Se é que são verdades ou apenas tormentos de quem se descobre uma tábula rasa, mais rasa do que já imaginado, ainda procurando alguma fórmula para levantar seu castelo de areia numa noite de tempestade.

Me sinto sendo testada e marcada, a ferro e fogo, sem pausas para tomar ar, apreciar a brisa e contemplar o céu. O segredo já não é recuperar as forças, mas descobrir que uma mente despedaçada pode voar e contemplar o voo, seja pela ignorância, pelo conhecimento, pelos prazeres, pelos sentimentos... Até mesmo pela dor de se olhar diante do espelho, nua e crua.

Algo me leva longe, me demora, e então me puxa de volta, com toda a força e brutalidade da colisão com a realidade. Os olhos brilham, a mente borbulha, tambores tocam fundo no peito, há um quê doce em toda essa força, funda em mim.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Despacho


Desencontros,
desapegos desmedidos,
desesperos despercebidos,
desinteresses ou desleixos,
destemperos guiando desrespeitos,
desentimentos motivados por desemelhanças,
desventuras em desamores,
desvios de deslumbramento...

Desiludem.
Desolam o amor que nem chegou a ser,
despacham o sentimento.
Desperdício.
E fim.

domingo, 6 de julho de 2014

Indefinida

Eu já não quero uma certeza, já não quero pensar tanto no amanhã, ignoro as previsões meteorológicas, o horóscopo, o tarot, todo o planejamento e crendices, teorias, razões e impulsos. Já não quero o depois, eu quero o agora, eu quero ser antes de permanecer - por quê é tão difícil? 

Basta sentir tudo aquilo que se guarda no peito, olhar de verdade, acreditar e dar uma chance para que o agora se torne aquele eterno de um único instante... ou o eterno enquanto durar. E que dure, não sei, que dure o tempo necessário para florir sorrisos e abrir as janelas do coração, da mente, da carne e do desejo. Desejar além da cama, da companhia, desejar um algo novo que te tire dessa confusão ao mesmo tempo tão monótona. Que seja, mas, efetivamente, seja. 

Mas quero, dá pra entender? Quero com toda essa euforia e conforto que dá, quero com a suavidade do toque e a intensidade do olhar. Quero, assim, inteiro, ou não. Tudo ou nada, porque o que eu sinto não cabe mais em meio termo, ou bate ou não bate. 

Enquanto isso eu sigo, acreditando, esperando, estendendo a mão. 

Buraco noturno

Entre ruas perdidas, no sereno gelado, entre goles e mesas, meia luz, meio fio, meias verdades... quem é você agora? A realidade nua, suada, intensa ou fruto da imaginação? Quais os disfarces e alardes, qual o seu número de telefone, o timbre da sua voz, quem é você ou eu que nem me lembro mais.

A noite cai bêbada em algum colo, brindando estes sorrisos tão frios e distantes quanto a mente entorpecida que os observa. São tantas guerras particulares, pequenas batalhas internas, que descansam banhadas pelo brilho da lua num quarto que não é o seu. E é vazio, frio, como o buraco que descubro no meu peito.

Fica.

Talvez você não veja
mas parece apenas mais uma dança solitária
uma canção que não pode ser ouvida
um suspiro doce perdido no meio da multidão
É tudo aquilo que eu queria mudar com você

Um jogo que pode ser vencido
e eu me vejo jogando sozinha,
em rua nebulosas que me levam até você,
quando ainda estou tentando pegar
o atalho contrário

E se eu nunca puder te contar a verdade?
E se eu nunca pudesse te contar
que tenho pouco tempo para amar você?
E, céus, isso é o que mais quero fazer

Se eu deixasse a razão contar
O tempo escorreria pelas minhas mãos frias,
tentando encontrar um jeito de ter você
e um pingo de esperança

Olho você e percebo
que nunca tive tanto medo da estrada
nem tanta vontade de ficar
Quando seus olhos dizem que sim,
por quê meu coração entende que não?

Agora eu só te peço para ficar
Não, não me deixe ir embora
porque tudo que eu quero
é demorar nesse seu olhar
e ter algo bom para lembrar

Apenas segure minha mão
e não me deixe sumir na névoa
do meu próprio coração
Porque o que eu sinto com você
dá ao meu coração uma trégua

Talvez você também sinta,
desde o primeiro dia,
que tudo isso poderia ser verdade
Então não demore
não quero mais me perder
nessa sua cidade

De todos os sorrisos,
eu escolhi deixar você ser o meu
Então, ou vem, me deixa saber
que não estou brilhando
sozinha na escuridão,
ou vai, porque a solidão também é presente

sábado, 5 de julho de 2014

As Riots estão vivas



Não, o movimento Riot Grrrl não acabou. Não foi enterrado pela mídia ou pela falsa ideia de que hoje as mulheres que comandam as nações, o mercado de trabalho, os produtos e bens de consumo. Ainda vivemos num mundo cheio de estereótipos, de preconceitos, de injustiças e falsas moralidades...Que muitas vezes são impostos por muitas de nós, mulheres, aquelas que se deixam encarar apenas como um buraco cor-de-rosa fútil.

Se nosso movimento começou nos anos 90 falando de música, mas já em resposta ao machismo, foi apenas o começo da nossa reivindicação, que se estende muito além dos dogmas do mundo do rock. Falamos da força feminina, do nosso poder de ação, da nossa presença como ser humano pensante e lutamos contra os dogmas desse velho mundo sexista, machista e preconceituoso...Não apenas como musicistas, mas como mulheres, como profissionais, como peças essenciais de um grupo, como filhas, irmãs, mães, como sua vizinha, colega de sala, como a garota que você vê passando na rua e chama de gostosa. Somos mais do que você pode julgar, por isso não fazemos a mínima questão de parecer comportadas e esteticamente aceitáveis para podemos ser aceitas por robôs de mente pequena, que seguem fielmente uma sociedade que nem ao menos os reconhece como ser humano e destrói sua honra todos os dias.

Somos aquelas que desde pequenas lutam para sobressair em ambientes onde a mulher é criada com contos de fadas, vestidos rosas, sonhos delicados e a ideia de um príncipe encantado. Somos aquelas que conseguem provar que dependem apenas de si mesmas para agir, que surpreendem com pontos de vista e ações, que se destacam no nível estudantil, no mercado de trabalho, na rua, no bar que você não frequenta. Provamos que podemos tanto quanto qualquer homem, fazendo por nós mesmas, pisando em estigmas e em preconceitos sem olhar para trás. Geralmente somos as ovelhas negras, as que batem de frente, que contestam, que não aceitam e lutam contra qualquer injustiça encontrada no meio do caminho, que lideram grupos e movimentos...Mas que vencem, que chegam lá, pelo próprio suor, por capacidade, não por meiguice, beleza, boas roupas e status social.

Falar de feminismo é muito mais do que falar de direitos das mulheres, é falar do direito de cada ser vivo, de saber o valor de cada um e olhar de frente, sem amarras, para o mundo que se impõe. Não cabe como regra sermos homossexuais e rasparmos o cabelo, porque para ser uma de nós é preciso é aceitar o que existe dentro de você, seja lá qual for sua escolha em qualquer aspecto. O que existe dentro de você, não o que colocaram lá sem pedir sua permissão. Para ser uma Riot Grrrl é preciso se respeitar, ou seja, acima de tudo, respeitar suas idéias, seus sentimentos, seu corpo, suas ideologias. É lutar por um mundo mais justo, mais igualitário, onde todos tenham vez. É não compactuar com sistemas que nos imponham padrões, que nos tornem objetos e símbolos sexuais, que só vejam nossa bunda e o cabelo arrumadinho. É fazer acontecer, não se omitir - não apenas vestir roupas descoladas, pintar os olhos de preto, beber cerveja, chegar tarde em casa e falar palavrão. Não somos uma imagem.

Riot Grrrl é aquela mulher que se arruma pra agradar a si mesma, que acorda super cedo e vai pro trabalho, que tem que se superar todos os dias e mostrar sua garra, que mesmo cansada não deixa a vida parar. Que engole sapo só pra provar o contrário. Que sabe onde gastar seu dinheiro e não é guiada pela mídia ou pelo que os outros esperam que ela seja, que não perde tempo com o que não vai a fortalecer ou acrescentar nada em sua vida, que não aceita que tentem mudá-la ou falem que ela não é capaz. Que tenta mostrar para outras mulheres que elas também podem comandar a própria vida. Riot Grrrl é ter fibra moral, é ser mulher e estar conectada com o poder de nossa essência, é ser consciente, é fazer e ser o melhor de nós mesmas. É tantas outras coisas que não precisam ser ditas, porque somos.


E estamos aqui, todos os dias, em todos os lugares, lutando por nós mesmas - seja com música, com textos, com atitudes, com nosso modo de ser e ver o mundo. Ainda lutamos, porque somente nós sabemos o quanto ainda é preciso vencer, o quanto é preciso mudar, o quanto a sociedade já tentou nos ferir e levantamos, mas fortes e decididas.

Camaleônica e transbordante



Sem dúvidas eu não sou a mesma.

Passei dias enfiada em memórias e tentando me reconectar com uma face perdida minha, como se ela pudesse retornar das brumas e voltar a ser aquela menina que ainda acreditava em todos os sorrisos... Aquela menina leve de cabelo comprido, cacheado e vermelho fogo, vestidão hippie azul, allstar preto sujo de areia, bolsão de lado cheio de tinta, sorriso sincero, brisa batendo, numa rua de pé de moleque e casarios que formavam meu paraiso infernal. Inspirações desordenadas e transbordantes, dúvidas e certezas coloridas, sem medo, sem amarras.

Essa é minha essência, no momento mais liberto e livre da minha vida, um EU tão vivo e refletido no meu rosto de neve, nem menina nem mulher, acreditando que a qualquer momento seria possível pegar um taxi para a estação lunar. Mas, agora, onde está?

Anos se passaram e eu também passei, por mim mesma e por coisas que eu jamais imaginaria, nem mesmo suportar. Mas também passei por sorrisos tão bonitos e experiências tão grandes, que me fazem acreditar que não sou apenas o que está aqui, há uma imensidão de gente, lugares, bagagens e tudo o mais que se possa imaginar dentro de mim.

Percebo então, que além dessa confusão interna e uma suposta maturidade, surge uma força que desconhecia. Algo grita, agora, um grito de liberdade, e vou amplificá-lo até que os olhos mudem de cor e eu consiga organizar essa bagunça, botar para funcionar o misto do que eu sinto agora em comunhão com aquela que tinha me esquecido, mas jamais deixei de ser. Não quero mais voltar, quero somar e transbordar novas cores, voltando a ter fé, na vida, em mim, no ser humano, no amor, na taba e pé na estrada... todas as estradas dentro e fora de mim.