sábado, 5 de julho de 2014

As Riots estão vivas



Não, o movimento Riot Grrrl não acabou. Não foi enterrado pela mídia ou pela falsa ideia de que hoje as mulheres que comandam as nações, o mercado de trabalho, os produtos e bens de consumo. Ainda vivemos num mundo cheio de estereótipos, de preconceitos, de injustiças e falsas moralidades...Que muitas vezes são impostos por muitas de nós, mulheres, aquelas que se deixam encarar apenas como um buraco cor-de-rosa fútil.

Se nosso movimento começou nos anos 90 falando de música, mas já em resposta ao machismo, foi apenas o começo da nossa reivindicação, que se estende muito além dos dogmas do mundo do rock. Falamos da força feminina, do nosso poder de ação, da nossa presença como ser humano pensante e lutamos contra os dogmas desse velho mundo sexista, machista e preconceituoso...Não apenas como musicistas, mas como mulheres, como profissionais, como peças essenciais de um grupo, como filhas, irmãs, mães, como sua vizinha, colega de sala, como a garota que você vê passando na rua e chama de gostosa. Somos mais do que você pode julgar, por isso não fazemos a mínima questão de parecer comportadas e esteticamente aceitáveis para podemos ser aceitas por robôs de mente pequena, que seguem fielmente uma sociedade que nem ao menos os reconhece como ser humano e destrói sua honra todos os dias.

Somos aquelas que desde pequenas lutam para sobressair em ambientes onde a mulher é criada com contos de fadas, vestidos rosas, sonhos delicados e a ideia de um príncipe encantado. Somos aquelas que conseguem provar que dependem apenas de si mesmas para agir, que surpreendem com pontos de vista e ações, que se destacam no nível estudantil, no mercado de trabalho, na rua, no bar que você não frequenta. Provamos que podemos tanto quanto qualquer homem, fazendo por nós mesmas, pisando em estigmas e em preconceitos sem olhar para trás. Geralmente somos as ovelhas negras, as que batem de frente, que contestam, que não aceitam e lutam contra qualquer injustiça encontrada no meio do caminho, que lideram grupos e movimentos...Mas que vencem, que chegam lá, pelo próprio suor, por capacidade, não por meiguice, beleza, boas roupas e status social.

Falar de feminismo é muito mais do que falar de direitos das mulheres, é falar do direito de cada ser vivo, de saber o valor de cada um e olhar de frente, sem amarras, para o mundo que se impõe. Não cabe como regra sermos homossexuais e rasparmos o cabelo, porque para ser uma de nós é preciso é aceitar o que existe dentro de você, seja lá qual for sua escolha em qualquer aspecto. O que existe dentro de você, não o que colocaram lá sem pedir sua permissão. Para ser uma Riot Grrrl é preciso se respeitar, ou seja, acima de tudo, respeitar suas idéias, seus sentimentos, seu corpo, suas ideologias. É lutar por um mundo mais justo, mais igualitário, onde todos tenham vez. É não compactuar com sistemas que nos imponham padrões, que nos tornem objetos e símbolos sexuais, que só vejam nossa bunda e o cabelo arrumadinho. É fazer acontecer, não se omitir - não apenas vestir roupas descoladas, pintar os olhos de preto, beber cerveja, chegar tarde em casa e falar palavrão. Não somos uma imagem.

Riot Grrrl é aquela mulher que se arruma pra agradar a si mesma, que acorda super cedo e vai pro trabalho, que tem que se superar todos os dias e mostrar sua garra, que mesmo cansada não deixa a vida parar. Que engole sapo só pra provar o contrário. Que sabe onde gastar seu dinheiro e não é guiada pela mídia ou pelo que os outros esperam que ela seja, que não perde tempo com o que não vai a fortalecer ou acrescentar nada em sua vida, que não aceita que tentem mudá-la ou falem que ela não é capaz. Que tenta mostrar para outras mulheres que elas também podem comandar a própria vida. Riot Grrrl é ter fibra moral, é ser mulher e estar conectada com o poder de nossa essência, é ser consciente, é fazer e ser o melhor de nós mesmas. É tantas outras coisas que não precisam ser ditas, porque somos.


E estamos aqui, todos os dias, em todos os lugares, lutando por nós mesmas - seja com música, com textos, com atitudes, com nosso modo de ser e ver o mundo. Ainda lutamos, porque somente nós sabemos o quanto ainda é preciso vencer, o quanto é preciso mudar, o quanto a sociedade já tentou nos ferir e levantamos, mas fortes e decididas.

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