Se nosso movimento começou nos anos 90 falando de música,
mas já em resposta ao machismo, foi apenas o começo da nossa reivindicação, que
se estende muito além dos dogmas do mundo do rock. Falamos da força feminina,
do nosso poder de ação, da nossa presença como ser humano pensante e lutamos
contra os dogmas desse velho mundo sexista, machista e preconceituoso...Não
apenas como musicistas, mas como mulheres, como profissionais, como peças
essenciais de um grupo, como filhas, irmãs, mães, como sua vizinha, colega de
sala, como a garota que você vê passando na rua e chama de gostosa. Somos mais
do que você pode julgar, por isso não fazemos a mínima questão de parecer
comportadas e esteticamente aceitáveis para podemos ser aceitas por robôs de mente
pequena, que seguem fielmente uma sociedade que nem ao menos os reconhece como
ser humano e destrói sua honra todos os dias.
Somos aquelas que desde pequenas lutam para sobressair em
ambientes onde a mulher é criada com contos de fadas, vestidos rosas, sonhos
delicados e a ideia de um príncipe encantado. Somos aquelas que conseguem
provar que dependem apenas de si mesmas para agir, que surpreendem com pontos
de vista e ações, que se destacam no nível estudantil, no mercado de trabalho,
na rua, no bar que você não frequenta. Provamos que podemos tanto quanto
qualquer homem, fazendo por nós mesmas, pisando em estigmas e em preconceitos
sem olhar para trás. Geralmente somos as ovelhas negras, as que batem de
frente, que contestam, que não aceitam e lutam contra qualquer injustiça
encontrada no meio do caminho, que lideram grupos e movimentos...Mas que
vencem, que chegam lá, pelo próprio suor, por capacidade, não por meiguice,
beleza, boas roupas e status social.
Falar de feminismo é muito mais do que falar de direitos das
mulheres, é falar do direito de cada ser vivo, de saber o valor de cada um e
olhar de frente, sem amarras, para o mundo que se impõe. Não cabe como regra
sermos homossexuais e rasparmos o cabelo, porque para ser uma de nós é preciso
é aceitar o que existe dentro de você, seja lá qual for sua escolha em qualquer
aspecto. O que existe dentro de você, não o que colocaram lá sem pedir sua
permissão. Para ser uma Riot Grrrl é preciso se respeitar, ou seja, acima de
tudo, respeitar suas idéias, seus sentimentos, seu corpo, suas ideologias. É
lutar por um mundo mais justo, mais igualitário, onde todos tenham vez. É não
compactuar com sistemas que nos imponham padrões, que nos tornem objetos e
símbolos sexuais, que só vejam nossa bunda e o cabelo arrumadinho. É fazer
acontecer, não se omitir - não apenas vestir roupas descoladas, pintar os olhos
de preto, beber cerveja, chegar tarde em casa e falar palavrão. Não somos uma
imagem.
Riot Grrrl é aquela mulher que se arruma pra agradar a si
mesma, que acorda super cedo e vai pro trabalho, que tem que se superar todos
os dias e mostrar sua garra, que mesmo cansada não deixa a vida parar. Que
engole sapo só pra provar o contrário. Que sabe onde gastar seu dinheiro e não
é guiada pela mídia ou pelo que os outros esperam que ela seja, que não perde
tempo com o que não vai a fortalecer ou acrescentar nada em sua vida, que não
aceita que tentem mudá-la ou falem que ela não é capaz. Que tenta mostrar para
outras mulheres que elas também podem comandar a própria vida. Riot Grrrl é ter
fibra moral, é ser mulher e estar conectada com o poder de nossa essência, é
ser consciente, é fazer e ser o melhor de nós mesmas. É tantas outras coisas
que não precisam ser ditas, porque somos.
E estamos aqui, todos os dias, em todos os lugares, lutando
por nós mesmas - seja com música, com textos, com atitudes, com nosso modo de
ser e ver o mundo. Ainda lutamos, porque somente nós sabemos o quanto ainda é
preciso vencer, o quanto é preciso mudar, o quanto a sociedade já tentou nos
ferir e levantamos, mas fortes e decididas.
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